ESTUDANDO A CONCENTRAÇÃO
1. A Faculdade da
Atenção
A Atenção pode
ser entendida como uma atitude psicológica através da qual concentramos a nossa
atividade psíquica sobre um estímulo específico, seja este estímulo uma
sensação, uma percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de elaborar os
conceitos e o raciocínio. Portanto, de modo geral a Atenção parece
criar a própria consciência.
Segundo o livro
“Psiquiatria e Mediunismo” de Leopoldo Balduino, é de fundamental importância
para a aquisição dos estados mais elevados de consciência e para as altas
produções artísticas, intelectuais ou mesmo para os fenômenos mediúnicos é a
atenção.
Através da
atenção a mente concentra a sua atividade psíquica sobre o objeto, seja esse
uma sensação, percepção, afeto, desejo, etc. Muitos autores não a consideram
uma atividade psíquica independente, ou seja, ela é determinada pelo interesse, pela motivação, pela firme vontade,
pela decisão que se toma consciente.
A atenção, a
concentração, a consciência, a distração e a subconsciência estão intimamente
ligadas. Sem a atenção a atividade mental se processaria como num sonho vago e
difuso, sem atenção em único objetivo não
há concentração.
Até nos sonhos
a atenção pode operar, e difíceis problemas podem ser resolvidas durante a
atividade onírica, pois são alguns sonhos, atividade do espírito emancipado da
carne, atuando no plano espiritual.
A consciência
pode ser comparada, fazendo uma analogia didática, como um alvo de tiro,
segundo Willian James, médico e psicólogo americano, o centro desse alvo
corresponde ao grau máximo de consciência, onde a atenção está mais
concentrada, é denominada foco da
consciência. Em geral, considera – se o número passível de objetos de serem
focalizados pelo foco da consciência, como sendo igual a quatro.
A Atenção da
pessoa, num determinado momento pode estar distribuída de várias maneiras no
campo da realidade. Pode estar concentrada num único objeto, dando-se pouca
Atenção ao resto, pode estar difusamente espalhada, sem que uma parte
específica esteja predominantemente em foco ou, por fim, pode estar dividida
entre vários objetos, quando então a pessoa procura prestar Atenção,
simultaneamente, a duas ou mais coisas. Quanto maior a divisão da Atenção entre
objetos, maior a perda de qualidade da Atenção dada a cada parte.
Há dois
aspectos no ato de concentrar a Atenção: primeiro, escolher um tema no campo da
consciência, e segundo, manter esse tema rigorosamente destacado, sem deixar-se
desviar por influências do campo da consciência, modificando-o com plena
liberdade. Assim sendo, tornando possível o funcionamento normal da capacidade
de concentração.
Assim, o
consciente é foco da atenção e os círculos concêntricos mais próximos simbolizam
o subconsciente, enquanto que os círculos mais afastados simbolizam o
inconsciente. Não existe entre essas regiões mentais uma delimitação nítida, são
campos energéticos do psiquismo.
Carl Jung
considera a focalização da atenção como elemento essencial da consciência,
“como se um jato de luz focalizasse certo número de objetos”.
No nível
mental, a luz simboliza a intensidade da atenção, a maior clareza dos processos
intelectuais e o maior refinamento dos sentimentos. Na Doutrina Espírita, o
maior desenvolvimento espiritual é expresso no mundo espiritual, em irradiação
de luz. A qualidade predominante da atmosfera psíquica de Espíritos elevados é
sua irradiação luminosa. Portanto, a faculdade da atenção vem a ser uma espécie
de raio luminoso que forma a essência da consciência.
Afirma Carl
Jung que “ninguém se torna iluminado imaginando figuras de luz, mas sim
tornando a escuridão consciente”. Tornar a ‘escuridão consciente’ significa uma
tomada de consciência no que está armazenado nos porões do inconsciente. Isso
seria o autoconhecimento, onde se volta à atenção para si mesmo, seus
sentimentos, emoções, seus desejos e intenções, etc.
Assim, o
caminho para a perfeição espiritual passa necessariamente pelo conhecimento de
si, pela análise psicológica, desenvolvendo o emaranhado de ideias,
sentimentos, impulsos, valores e ideais, além da dissolução das dívidas morais
dessa e de outras existências, resultando em plena claridade mental, isento de
qualquer defeito.
Eugen Bleuler, notável psiquiatra suíço, destaca duas
qualidades da Atenção: a tenacidade e a vigilância.
A Tenacidade é a
propriedade de manter a Atenção orientada de modo permanente em determinado
sentido (concentração).
* Ao
contrário, a falta de tenacidade é a dificuldade
da Atenção em
fixar-se.
A Vigilância é a
possibilidade de desviar a atenção para um novo objeto, especialmente para um
estímulo do meio exterior (desvio).
As técnicas de
meditação procura desenvolver justamente essas qualidades como método de
desenvolvimento espiritual. Tais técnicas são indutoras de um estado que
predomina as ondas alfas, cuja característica física é o relaxamento, e mentais
a serenidade, pré-sonolência, intuição, que são ondas indutoras do transe.
A prática da
meditação é importante para o desenvolvimento das faculdades mediúnicas, onde a
atenção focada leva a concentração, que desempenha papel fundamentas no transe
mediúnico.
2. Concentração
Ao contrário da atenção, que é um ato passivo, de
recepção de impressões ambientes, a concentração é um ato mental intensamente
ativo, mediante o qual dirigimos nossa mente sobre certo ponto de interesse.
Pressupõe, portanto, convergência de pensamentos para um determinado fim.
Na atenção as
portas da mente se abrem para o mundo exterior; na concentração faz-se
exatamente o contrário, ou seja, fecham-se essas portas, cortam-se as ligações
dos sentidos com o ambiente externo, passando-se então a atuar inteiramente na
intimidade da zona psíquica. Na
concentração exercitamos a nossa vontade, fazendo recolhimento da mente para o
nosso interior, isolando-nos das coisas exteriores que nos rodeiam, para
iniciarmos a ligação com o mundo íntimo, psíquico, espiritual.
Diz Roque Jacinto no livro “Desenvolvimento
Mediúnico”, cap. 25 que concentrar não é apenas cerrar os olhos, deixando que
os pensamentos tomem os canais habituais a que estão condicionados.
Para que haja realmente concentração e, esta se faça
sem desgastes, há algumas etapas no processo de concentração que são
importantes. O primeiro é o relaxamento físico para liberação da
musculatura e permitir um contato maior com níveis ampliados da consciência.
Seguindo ao relaxamento físico é imprescindível que
haja um relaxamento mental. Entendemos por relaxamento mental o serenar
dos pensamentos, o acalmar o fluxo, ir lentamente permitindo que a mente se
liberte dos pensamentos costumeiros para se tornar "vazia", ou seja, abstrair.
Os dicionários
trazem como sinônimos para abstrair palavras como: distrair-se, alhear-se,
separar, apartar. Todos estes significados de alguma forma se relacionam ao ato
de abstrair. Realmente o que acontece no processo da abstração é um
"distrair" a mente consciente que nos prende ao cotidiano, ao barulho
do momento, ao dia a dia. Esta abstração vai levando a pessoa a alhear-se do
aqui e agora, para que, com a consciência ampliada, possa alargar os horizontes
de percepção numa separação gradual entre a mente consciente e a inconsciente.
Como fazer isso se estamos sempre pensando? Se
pensamentos intrusos povoam nossa mente, principalmente quando não os queremos?
É preciso técnica e treino. Algumas técnicas ajudam
nesta educação mental e com a continuidade o processo de abstrair se torna mais
fácil.
Um cuidado é
importante neste momento: nossa mente
não deverá estar atenta ao que não deve
fazer ("vamos esquecer os
problemas do dia", "não vamos agora lembrar das dificuldades"), porque para saber o
que não é para fazer ela precisa
pensar primeiro no que são estas
coisas e, portanto, já estará ligada a elas. Nossa mente deverá estar atenta ao objetivo, que é deixar a mente livre, aberta, limpa como uma tela em
branco.
Existem várias técnicas. Podemos citar duas como
exemplo. Uma delas é deixar a mente como se ela fosse um espelho. Todos os
pensamentos que ocorrerem chegarão a este espelho e voltarão para donde vieram.
Outra técnica é deixar a mente como se ela fosse um rio. Todos os pensamentos
que surgirem deverão ser levados pela correnteza deste rio até que não haja
mais nenhum.
Há ainda a possibilidade de se abrir a mente para sentir
uma qualidade como: serenidade, bondade, calma etc. e em seguida "ser"
a calma, a serenidade, a bondade, elevando desta forma o padrão mental, o que
vai permitir a criação de uma atmosfera fluídica importante para o
desenvolvimento de um trabalho mediúnico. Pode-se usar o recurso de projeção de
uma imagem do Cristo, doce e consolador à beira de um lago ou no alto de um
monte ou jardim, ou simplesmente, deambulando na sala irradiando e transmitindo
paz e esperança. Assim, direcionando conscientemente as vibrações para os
espíritos sofredores comunicantes.
Lentamente a mente vai ficando mais serena, sem pensamentos
intrusos e já se pode passar a outra fase do processo que é a concentração.
Concentrar: Fazer convergir para um centro; reunir em um mesmo
ponto; tornar-se mais denso, mais forte.
Concentração (Concentração): convergência.
Como a própria palavra diz, nesta fase do processo
toda a ação mental vai estar concentrada em um objetivo. É
importante que a mente esteja livre para então direcionar o pensamento para o
objetivo que se deseja (sem esforço). Em relaxamento, o pensamento deve
permanecer como se repousasse neste ponto, neste lugar, neste objetivo que se
estabeleceu.
À primeira
vista pode parecer tarefa fácil, mas na verdade a mente, sem mesmo nos darmos
conta está sempre ativa, isto porque "o Espírito jamais está inativo”. Se
pararmos um pouco e fizermos uma observação perceberemos a velocidade, o ritmo
e o encadeamento de nossos pensamentos. Dificilmente paramos para perceber este
padrão, vamos pensando e pronto! Estes padrões de mudança contínua são difíceis
de serem modificados. Como é difícil concentrar o pensamento em uma coisa só!
Parece que o pensamento foge para outras tantas situações e quanto mais se
esforça menos se consegue.
É importante
no processo não criar tensões e "obrigações". O pensamento deverá
fluir numa direção e lá permanecer tranquilamente. É importante também estar ciente que com o
contínuo exercício tudo vai acontecendo de forma mais fácil e natural. O ponto
de convergência dos pensamentos em um trabalho mediúnico é a elevação do padrão
vibratório e a manutenção deste padrão durante o tempo de trabalho.
A manutenção vibratória é fundamental
para que o ambiente se mantenha pleno de elementos fluídicos, favorecendo desta
forma o desenvolvimento dos trabalhos e o intercâmbio com o plano espiritual. A
posição mental neste momento será para manter a concentração nos objetivos
propostos para o trabalho, doação fluídica necessária aos atendimentos que se
realizam, vibrações amorosas para os companheiros do grupo bem como para as
entidades espirituais que porventura
estejam no recinto.
A mente poderá se manter como um foco de irradiação de
pensamentos elevados que se modulam conforme a necessidade do momento.
Quando o processo da concentração e da manutenção
vibratória vai se tornando natural pela prática contínua, ele não cansa, ao
contrário, proporciona a quem o exercita um bem estar profundo.
Em o Livro dos Médiuns, item 204, Kardec coloca que
para prática consciente e elevada da mediunidade, existem requisitos
fundamentais.
“ Mais
importante (...) é a calma e o recolhimento que se deve ter, juntos a um desejo
e uma vontade firme de êxito. E por vontade não entendemos aqui um desejo
efêmero e inconsequente, a cada momento interrompido por outras preocupações,
mas uma vontade séria, perseverante sustentada com firmeza, sem impaciência nem
ansiedade. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e o
afastamento de tudo o que possa provocar distrações.”
Assim, para Kardec a mediunidade, a capacidade de
concentrar e a educação mental estão estreitamente relacionadas. Sintetizando o
codificador recomenda para os médiuns:
o
Capacidade de
Concentração;
o
Educação mental.
2.1. Capacidade de Concentração
Durante os trabalhos mediúnicos, é preciso saber
concentrar, isolar a mente de todas as dispersões a que estamos habituados. Focar
o pensamento no propósito de servir, fixando a emoção em Jesus, praticando o
“Amai ao vosso próximo com a ti mesmo”.
Trata-se de uma disciplina mental, que deveríamos,
aliás, praticar diariamente e não apenas na hora da prática mediúnica. Saber
centrar e controlar os próprios pensamentos é conquista importante para o
espírito. Mas, não é algo que se atinge facilmente. É preciso calma e
persistência.
Assim sendo, há dois movimentos mentais distintos na
sessão mediúnica:
a) O direcionar o pensamento na prece, nas
emissões de vibrações ou na projeção de imagens. (médiuns de sustentação,
esclarecedor)
b) O esvaziar a mente para permitir, que o
espírito comunicante manifeste o seu pensamento. (médiuns ostensivos)
2.2. Educação mental
Os médiuns são alunos em crescimento espiritual,
necessitando pautar seus trabalhos com os seguintes valores morais: disciplina,
esforço e perseverança. São eles convocados, em primeiro lugar, a equilibrar-se
a si mesmo, antes de se atirar ás tarefas no serviço mediúnico.
O esforço de autodisciplina é um processo longo e
doloroso por vezes, pois nas lutas e dificuldades da vida, perseverar-se-á pelo
equilíbrio mental e sentimental, cujas tentativas não poderão ser isoladas de
quando em quando, deverá ser sistemático, de vontade firme, paciente, decidido
e sempre verdadeiro consigo mesmo. Buscando nos modelos de transformação moral
e reforma íntima, como nas personalidades de Paulo de Tarso, Maria de Magdala e
Francisco de Assis, a inspiração para seu burilamento interno.
É fundamental na tarefa mediúnica, como na própria
evolução de nós mesmos, a atenção devotada para a autoeducação de suas emoções
e sentimentos, predispondo-se ao desejo sincero de aprender a corrigir-se, ser
ativo e menos reativo ao meio e a pessoas, renovar sempre o pensamento e a emoção,
seguir e da melhor forma possível, procurar agir como nosso modelo e mestre
Jesus.
A educação intima que nos transforma se trata daquela
que modifica os hábitos externos na eliminação dos vícios, como na alimentação,
nas expressões sociais, no sexo, no consumo de bebidas alcoólicas, cigarro,
outros.
Importante compreender, que disciplina para ser eficaz
e renovadora não dispensa a visão espiritual proativa na autoanálise dos
pensamentos e das emoções, com o conhecimento exato e profundo de nossas más
tendências e maus hábitos. E assim, é primordial governar os impulsos instintivos
e egóicos, o personalismo enraizado em nosso eu, nos esforçando por dominar com
energia superior, a sombra densa de nosso espírito cristalizado em paixões
desarmônicas de ordem moral e espiritual de vidas após vidas, que vivem e
ressurgem dos subterrâneos da nossa inconsciência.
Portanto, sendo severos para com nossas faltas, e
indulgentes e tolerantes com o próximo que apresenta a ignorância moral e
espiritual em grau maior que o nosso. Se sinceramente desejamos melhorar a nós
mesmos, fazendo com que nossa estrutura psíquica se enriqueça de novas luzes e
alcance camadas superiores do pensamento e emoção, uniremos nosso pensamento
com o Cristo, sendo seus instrumentos na humanidade.
É a autoeducação das emoções e sentimentos, a
disciplina que ilumina e liberta a mente, proporcionando o desabrochar da
consciência superior.
Temos á disposição recursos para auxiliar-nos
acelerando o processo de autoeducação interna, como:
1. Instrução;
2. Autoconhecimento;
3. Caridade.
O estudo é recurso que proporciona renovação mental
dos clichês mentais e monoideias, que nos aprisionam, e pelo acúmulo de
conhecimento, nos liberta da ignorância e proporciona segurança íntima.
No conhecimento de si mesmo, Santo Agostinho nos Livro
dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 919, ensina o meio “(...) Dirigi, pois,
a vós mesmos perguntas, interrogue-vos sobre o que tendes feito e com que
objetivo procedeste em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa
que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obraste alguma ação que não
ousaríeis confessar.”
Carl Gustav Jung desenvolveu a expressão “sombra” para
denominar tudo aquilo que somos, mas ignoramos ser. Esse termo, em psicologia,
significa que tudo o que o homem não quer ser ou ver em si mesmo permanece
oculto no seu inconsciente.
E somente quando reconhecermos e aceitarmos o que há
em nós, tomarmos contato com nossas dificuldades e fragilidades existenciais, é
que poderemos iniciar nossa real tarefa de transformação íntima. Além do mais,
só conseguimos modificar aquilo que admitimos e vemos claramente em nós mesmos.
Portanto, são nossos sentimentos que nos dão
conhecimento de nós mesmos, de como somos, no momento exato em que os
vivenciamos. Eles revelam-nos, com detalhes minuciosos, como as coisas estão
acontecendo conosco; por isso a importância de saber interpretá-los
convenientemente.
A Caridade sincera é a “chave da renovação” interior, é
a “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias,
perdão das ofensas” (LE,questão 886) . A compaixão e a benevolência é um
processo de verdadeira alquimia espiritual, essas são qualidades que
transformam verdadeiramente.
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*Referências: Apostila
COEM 2; A Imensidão dos sentidos, págs. 53 e 127; “Desenvolvimento Mediúnico”,
Roque Jacinto, cap.25; “Psiquiatria e Mediunismo”, Leolpodo Balduino
– cap. 2 ‘Natureza da Mente”.